Reconstrução

Um ano após as enchentes, Grêmio faz balanço dos impactos da tragédia

Clube mobilizou torcida, ampliou atuação social e driblou adversidades dentro e fora de campo

02 MAI 2025 16:24 Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense

As enchentes que assolaram o Rio Grande do Sul impactaram profundamente não apenas a população, mas também o ecossistema social e esportivo do Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense. O Instituto Geração Tricolor (IGT), braço social do clube, foi severamente atingido, o que resultou na perda total da estrutura da sua sede. Diante do cenário emergencial, o Instituto transferiu suas atividades para o andar térreo da Arena do Grêmio e inaugurou, recentemente, uma segunda sede voltada ao atendimento de crianças e adolescentes de 6 a 18 anos em situação de vulnerabilidade social, com foco no desenvolvimento educacional, social e emocional, promovendo crescimento individual e coletivo.

Em meio à crise, a solidariedade se tornou protagonista. O IGT arrecadou mais de R$ 628 mil em doações, revertidos em kits de eletrodomésticos e móveis para famílias atingidas. Em apenas 60 dias, o Estádio Olímpico se transformou em centro de recebimento e distribuição de toneladas de donativos. Durante esse período, foram servidas 30 mil refeições e foi realizada a "Maior Faxina do Rio Grande do Sul", que mobilizou mais de 2.000 voluntários, entre colaboradores, conselheiros, torcedores e entidades parceiras, em um esforço coletivo que simbolizou a união em prol da reconstrução.

Parcerias estratégicas também desempenharam papel fundamental nessa mobilização. A união com o grupo Bonanza e a plataforma Vakinha garantiu a distribuição de itens de primeira necessidade para centenas de famílias afetadas. No entanto, nem todos os esforços foram isentos de obstáculos: durante o período em que o estádio abrigava vítimas das enchentes, a loja oficial Grêmio Mania Mega Store da Arena foi invadida. Computadores, televisores, cofres, mercadorias e uniformes foram levados. Em decorrência disso, o Clube aproveitou para reformar o espaço e entregá-lo com um novo padrão, maior e mais moderno, oferecendo uma experiência ainda melhor ao torcedor. Apesar do momento delicado, o quadro de sócios se manteve firme, com grande parte dos gremistas mantendo o pagamento das mensalidades, o que demonstra o forte vínculo da torcida com o clube, mesmo em tempos adversos.

Outra campanha criada nesse período foi a Jogando Junto – Pela Reconstrução do RS, uma ação que visou estimular a doação de empresas para a reconstrução do Estado usando a força e a credibilidade da marca dos dois clubes dando destaque e visibilidade às empresas que aderirem ao projeto. A campanha foi simbolizada pela cor roxa, resultado da união das cores azul e vermelha, além da logomarca que simboliza um aperto de mãos entre os dois rivais.

IMPACTOS ESPORTIVOS E LOGÍSTICOS

O futebol, por sua vez, também enfrentou grandes desafios. Desde a inauguração da Arena, a gestão das partidas é conduzida pela administradora do estádio, sem interferência direta do Grêmio. Com os efeitos das enchentes, o Clube precisou transferir seus jogos para fora do estado, o que exigiu uma rápida reorganização interna para a operacionalização das partidas em um ambiente completamente novo. Mesmo sem experiência prévia nesse tipo de logística, a dedicação dos profissionais permitiu que os jogos fossem realizados com sucesso.

O Grêmio ficou 134 dias fora de casa, disputando 14 jogos como mandante fora de Porto Alegre, em quatro estados e cinco estádios diferentes, com um total de 15 mil quilômetros percorridos. O deslocamento de jogadores, de suas famílias e da equipe de apoio para outros estados gerou impactos esportivos significativos, sobretudo pela ausência de um local adequado para treinamentos e pela desarticulação da rotina de preparação. Ainda assim, a solidariedade do futebol brasileiro se fez presente. O Coritiba cedeu seu estádio e destinou 30% da renda arrecadada às vítimas do Rio Grande do Sul. O Botafogo aceitou jogar em campo neutro, o Corinthians emprestou o Centro de Treinamento, o Atlético Mineiro realizou um treino na Arena MRV, no dia em que aconteceria o jogo entre os Clubes e destinou a renda para o Rio Grande do Sul. Além de disso, outros clubes também contribuíram financeiramente, demonstrando espírito de união em um momento tão desafiador.

O time voltou a atuar na Arena apenas no dia 1º de setembro, no jogo com o Atlético-MG, válido pelo Campeonato Brasileiro. Antes da enchente, em apenas três ocasiões na sua história o Clube havia jogado com mando de campo fora do estado: dois jogos no Estádio Orlando Scarpelli em Florianópolis (SC), e um Grenal no Estádio Atilio Paiva Olivera em Rivera, no Uruguai. 
 
OBRAS NO ENTORNO DA ARENA

Já no entorno da Arena, um dos principais desafios enfrentados tem sido o escoamento do público após as partidas. A implantação de uma nova saída com acesso direto à Freeway representa um avanço significativo, com potencial de aliviar o trânsito na região. Embora a solicitação por essa via exista desde 2016 — e tenha sido negada em diferentes momentos —, o novo cenário provocado pelas enchentes de 2024 fez com que as autoridades revissem sua posição. Agora, a obra poderá ser viabilizada pela Arena do Grêmio por meio de um Projeto de Interesse de Terceiro (PIT). A execução depende da aprovação da Concessionária ViaSul, mediante a apresentação de estudos de tráfego e um projeto de engenharia compatível com as exigências técnicas e de preservação da rodovia.

O balanço de um ano após as enchentes revela não apenas os desafios enfrentados, mas também a força de uma instituição que soube reagir com solidariedade, organização e compromisso social. O Grêmio transformou a adversidade em força para a reconstrução e reafirmou seu papel além das quatro linhas, como agente ativo na vida da comunidade. Mais do que vitórias em campo, o clube celebrou o espírito coletivo de sua torcida, dos parceiros e do futebol brasileiro, que juntos ajudaram a escrever um capítulo marcante de superação na história tricolor.

Foto: Lucas Uebel / Grêmio FBPA