1ª FASE: 1980 e 1983 – AS PIONEIRAS
Foi no segundo semestre de 1980 que um grupo de mulheres capitaneadas por Marianita da Silva Nascimento formou o primeiro time de futebol feminino do Grêmio FBPA, durante a gestão do Presidente Hélio Dourado. Essas jogadoras atuaram juntas durante anos a fio e integraram diversas equipes amadoras, entre elas a Sociedade de Amigos de Capão da Canoa (SACC) e o Esporte Futebol Clube, esse último muito associado ao Grêmio. Eram tempos de quase nenhum incentivo às jogadoras e de repressão aos clubes que resolvessem abraçar a modalidade, já que o Decreto-Lei Nº 3.199 de 14 de abril de 1941 proibia o futebol feminino em território nacional sob a justificativa de que “era incompatível com a natureza feminina”. A regulamentação só viria em 1983.
Os limites impostos pelas proibições legais então vigentes não impediram que a primeira equipe gremista disputasse uma Copa Ajax de futebol de salão, além de um amistoso contra o time de futebol feminino da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. A primeira passagem do grupo pioneiro pelo Clube foi bastante breve e as atletas foram dispensadas já no início de 1981, fato esse que foi seguido pela fundação do Esporte Futebol Clube. Pelo Esporte FC disputaram torneios históricos como o I Campeonato Gaúcho extraoficial de futebol feminino de 1982, no qual sagraram-se campeãs, e o I Torneio Brasileiro de Clubes Campeões de Futebol Feminino na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro, em abril de 1983.
A SACC e a inauguração do Olímpico Monumental
Ainda representando a Sociedade de Amigos de Capão da Canoa, SACC, as jogadoras pioneiras foram convidadas a disputarem um torneio dentro das festividades de inauguração do Estádio Olímpico Monumental, em junho de 1980, marcando o início da aproximação do grupo de atletas com o Tricolor. As partidas foram motivo de atrito entre o Grêmio e os órgãos que acusavam o descumprimento do decreto de proibição do futebol de mulheres.
Marianita entra em campo
Personagem importante do futebol feminino brasileiro, a meio-campista Marianita da Silva Nascimento deixou seu nome registrado na história da modalidade, dentro e fora de campo. Sua grande habilidade no futebol, reverenciada pelas jogadoras e imprensa da época, combinava-se com uma atuação sólida junto a dirigentes esportivos e à classe política em prol da regulamentação do futebol feminino no país. Por influência do pai Aymoré, ex-conselheiro do Grêmio, e do irmão Deco Nascimento, conselheiro e ex-diretor de futebol do Clube, tornou-se gremista e aproximou-se do futebol muito cedo. Essas origens, junto a uma personalidade determinada, foram essenciais para que, anos mais tarde, se tornasse a grande responsável pela chegada do futebol de mulheres ao Grêmio.
Em junho de 1982, Marianita e as jogadoras Macalão e Mara integraram a histórica excursão do E.C. Radar à Espanha, a primeira vez em que um time de mulheres sul-americano e um europeu teriam se enfrentado segundo fontes da época. O convite partiu de Eurico Lyra, presidente da emblemática equipe carioca multicampeã da década de 1980. A delegação brasileira recebeu o status de seleção pela imprensa local e venceu de todos os amistosos disputados. A viagem tinha também um caráter político, pois atletas e dirigentes manifestavam publicamente seu desejo pela possibilidade de profissionalização do futebol feminino em terras brasileiras. Marianita retornou ao Brasil como atleta destaque, fato cuja repercussão fortaleceu ainda mais sua figura de liderança.
Luta pela regulamentação do futebol feminino
O pedido de regulamentação do futebol feminino no Brasil precisou ser formalizado por uma ampla documentação e foi na Federação Gaúcha de Futebol que, em 1982, teve origem um anteprojeto de grande importância para esse processo. Composta sobretudo por dirigentes esportivos, uma comissão criada para redigir tal documento realizou um grande senso do futebol feminino no estado. Integrando o grupo, foi a Marianita Nascimento a quem coube desempenhar a função de elo entre dirigentes e jogadoras. Ainda em novembro de 1981, Marianita já havia trabalhado em conjunto com o então vereador Valdir Fraga da Silva para levar o tema da regulamentação do futebol feminino para a Câmara Municipal de Porto Alegre.
Na impossibilidade de obterem apoio de entidades e grandes agremiações esportivas, restava às próprias jogadoras que se organizassem. Com esse intuito, foi criada a Liga Porto-Alegrense de Futebol Feminino, entidade que buscou unir forças em prol da regulamentação da modalidade. Sob a presidência de Marianita e enfrentando diversos obstáculos, a Liga promoveu o primeiro Campeonato Gaúcho extraoficial de futebol feminino no segundo semestre de 1982. Na ocasião, as agremiações de futebol de Porto Alegre foram proibidas de cederem qualquer espaço para a realização do campeonato e, mais uma vez, foram os campos de praças e colégios que abrigaram as partidas. Na final, o Esporte F.C. venceu o Pepsi-Bola e foi campeão.
O título extraoficial de campeão do estado de 1982 rendeu ao Esporte F.C. o convite para mais um importante torneio praiano na cidade do Rio de Janeiro. Um dos nomes que a competição recebeu foi I Torneio Brasileiro de Clubes Campeões de Futebol Feminino e ocorreu entre os dias 09 e 10/04/1983. Dele também participaram os campeões extraoficiais dos estados do Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais. Curiosamente, o Esporte FC foi chamado de Grêmio Esporte Clube na imprensa carioca, fato que ao chegar ao conhecimento do Presidente Fábio Koff causou surpresa. O Grêmio EC alcançou o segundo lugar nas areias de Copacabana e, duas semanas depois, com o apoio dos dirigentes gremistas, se transformou oficialmente no Grêmio FBPA., marcando o retorno das pioneiras ao Clube.
O Futebol Feminino retorna ao Grêmio
Em maio de 1983, cerca de um mês após a regulamentação do futebol feminino no Brasil, a modalidade retorna ao Grêmio por iniciativa do mesmo grupo de jogadoras de 1980 e novamente sob o comando de Marianita. Dessa vez, o apoio veio do Presidente Fábio Koff e um departamento foi oficialmente constituído, vinculando-se ao Departamento de Esportes Amadores.
A dedicação das jogadoras pioneiras à camisa tricolor ia muito além da garra que demonstravam dentro de campo. Os desafios em relação à estrutura que a época lhes impunha eram diversos: não raro comprava-se as próprias chuteiras, ajustava-se o uniforme com linha e agulha, coletava-se dinheiro para custear as viagens ao encontro dos adversários e recebia-se o aplauso da torcida como único pagamento. As limitações eram compensadas com muito esforço e amor pela bola.
A equipe de futebol feminino gremista de 1983 contava com as seguintes atletas:
Ana Maria Gasparotto (Aninha) Anelise Kaysir Ângela Maria Ribeiro Celanir Pacheco Suez Débora Eunice Lopes Carvalho Dione Webber Carlos Eva Maria Vargas Gisela Maria Dutra Pithan (Piu) Ivone T. Dallegrave Jadi Maria Ferroni Janilce Conceição Viana Joceli Martins Leandro Lacy Alves Vianna Ligia Luz Livi Mara Lúcia dos Santos Mara Rosane Moreira Prado Mara Rosane Rosa Ribeiro Marcia Amaral Macalão (Macalão) Maria Aparecida Granado (Granado) Maria Luiza de Oliveira Marianita da Silva Nascimento Marinilsa Souza Conceição Marli Beatriz de Almeida Santos (Lili) Miriam Costa Baratojo Nair Serenita dos Santos Neisa Chagas (Mineiro) Neusa Nazari Patrícia Adriano Martins Rejane Mattos Roldão Rosane Machado Rollo Rosamaria Griebeler (Rosa) Rosemaria Pesente Silvia Denise Boneberg Silvia Fattori Vandelina Kaodinski Vera Lúcia da Silva Vera Regina Marcelino
A primeira comissão técnica
Entre os maiores incentivadores da equipe de 1983 estava João Luís Thomé Rollo, o Tuba. Gremista apaixonado por influência da família, Tuba assumiu o posto de assessor do futebol feminino e é lembrado pelas atletas da época por seu carisma e dedicação ao departamento, sendo inclusive treinador do time em algumas oportunidades. A comissão responsável pelo departamento contava ainda com Jerônimo Moreno como preparador físico, Márcia Macalão como treinadora e Wilson Bona, o Dadinho, como diretor.
A temporada de 1983
Além dos jogos do Campeonato Gaúcho de Futebol Feminino de 1983, outro marco na história da modalidade no Rio Grande do Sul, a equipe gremista disputou diversos amistosos no estado e fora dele. Um dos mais emblemáticos foi contra o Bangu do Rio de Janeiro, em pleno Maracanã, minutos antes da partida entre as equipes masculinas de Grêmio e Flamengo pela Copa Libertadores da América de 1983.
O primeiro Gre-Nal de futebol feminino foi um amistoso disputado no dia 26/06/1983 na cidade de Camaquã/RS e cujo placar foi 0x0. Os clássicos seguintes foram disputados pelo Campeonato Gaúcho, competição na qual as gremistas foram vice-campeãs.
Em 1984, diante de um novo revés, as pioneiras gremistas marcaram mais uma vez a história do futebol de mulheres no Rio Grande do Sul. Após o encerramento do Departamento de Futebol Feminino Tricolor no início daquele ano, a busca por autonomia levou as jogadoras a decidirem pela criação do próprio clube: o Independente Futebol Clube, em 23/11/1984 - primeira agremiação exclusivamente de futebol feminino a se filiar à Federação Gaúcha de Futebol.
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